Testes estão sendo desenvolvidos a partir da proteína S (spike), presente na superfície do novo coronavírus
Uma parceria entre a Coppe, ligada à Universidade Federal do Rio de Janeiro, e a Bio-Manguinhos/Fiocruz com a empresa FK Biotecnologia-Imunobiotech vai possibilitar a produção de testes sorológicos para diagnóstico da Covid-19. Os testes estão sendo desenvolvidos a partir da proteína S (spike), presente na superfície do novo coronavírus.
A proteína S está sendo produzida desde fevereiro em células geneticamente modificadas no Laboratório de Engenharia de Cultivos Celulares (Lecc) da Coppe, no Rio de Janeiro, coordenado pela professora Leda Castilho.
De acordo com a coordenadora do projeto, a produção no Brasil de testes confiáveis permitirá ampliar significativamente a testagem da população brasileira, que hoje em dia é muito baixa.
“Os testes que detectam anticorpos do tipo IgG, os quais podem estar relacionados à imunidade, são muito importantes para compreender a disseminação da doença, subsidiar modelos epidemiológicos, auxiliar no desenvolvimento de vacinas, assim como permitir que decisões de políticas públicas sejam cientificamente embasadas”, esclarece.
“Os testes sorológicos, mais baratos e simples que o PCR, não detectam o vírus na fase aguda da doença, mas sim os anticorpos gerados pelo organismo algumas semanas após o contágio com o vírus, como parte da resposta imunológica do organismo. Por isso, eles se aplicam mesmo aos cerca de 80% dos indivíduos infectados que não apresentam sintomas, mas que podem ter contribuído para transmitir o vírus”, explica a coordenadora do projeto.
Segundo Leda Castilho, os testes sorológicos podem ser produzidos no Brasil por várias empresas e em grande escala, desde que haja disponibilidade de uma proteína do vírus para atuar como o “coração” do teste.
Em conjunto com o professor André Vale, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF/UFRJ), foi desenvolvido um teste sorológico do tipo “ELISA” usando a proteína S produzida na Coppe. Quando o plasma de indivíduos convalescentes foi avaliado, o resultado do teste “ELISA” apresentou correlação direta com a capacidade de neutralizar o novo coronavírus, medida no Instituto de Biologia da UFRJ, em trabalho coordenado pelos professores Amílcar Tanuri e Orlando Ferreira.
Amostras da proteína S produzida no Laboratório de Engenharia de Cultivos Celulares já foram entregues às empresas parceiras, as quais estão produzindo testes do tipo “ELISA” (FK Biotecnologia-Imunobiotech) e do tipo teste rápido (Bio-Manguinhos). Dada a urgência por testes confiáveis para diagnóstico da Covid-19, a parceria apoiada pela Embrapii e pelo Sebrae visa a otimização e o escalonamento do processo de produção e purificação da proteína, para que a tecnologia possa ser implementada em maior escala.
“O escalonamento inicial do processo até escala de biorreator de 50 litros ocorrerá na Coppe, já possibilitando a obtenção de proteína S em quantidade suficiente para produção de dezenas de milhares de testes por semana”, antecipa a professora Leda Castilho.
De acordo com o vice-diretor de Desenvolvimento Tecnológico de Bio-Manguinhos, Sotiris Missailidis, “o Instituto participa com apoio técnico para o escalonamento da produção da proteína S e com o desenvolvimento de um teste rápido para detecção de anticorpos. É uma parceria de inovação aberta; um exemplo de colaboração nacional, de instituições públicas e privadas, para dar resposta às necessidades do País, garantir a independência tecnológica e fortalecer o combate à atual crise da Covid-19. O objetivo final é a produção do teste rápido em larga escala, para atender às demandas do Ministério de Saúde”.
Na avaliação do CEO da FK Biotecnologia-Imunobiotech e professor licenciado da PUC-RS, Fernando Kreutz, o novo teste baseado na proteína S representa uma inovação que pode mudar o paradigma de enfrentamento à pandemia. “O desenvolvimento deste teste é um exemplo de parceria público-privada que dá certo e que transforma ciência em riqueza social”, reforça Kreutz.
Outras parcerias para a produção da proteína S
Outras empresas brasileiras, laboratórios governamentais e pesquisadores de diversas instituições brasileiras também já receberam a proteína S da Coppe com diversas finalidades além da produção de testes diagnóstico. Segundo a professora Leda Castilho, o Instituto Vital Brazil (IVB) recebeu a proteína para a imunização de cavalos para produção de soro anti-coronavírus, e o Hemorio a recebeu para monitorar a quantidade de anticorpos anti-coronavírus em voluntários convalescentes, com objetivo de tratar pacientes graves de Covid-19 mediante transfusão de plasma.
Antes de firmar a parceria apoiada pela Embrapii e pelo Sebrae, o projeto liderado por Leda Castilho recebeu em maio apoio do Senai Cetiqt (RJ), do Senai Nacional, e da empresa CTG para o desenvolvimento inicial da produção da proteína S em pequena escala, em uma ação que envolvia também a utilização da proteína S produzida pela Coppe por Bio-Manguinhos e pela empresa AdvaGen Biotech.
Com informações da Coppe/UFR